O pontilhismo, ou dotwork, é, como o nome já diz, um estilo de desenho composto por pontos. Na história da arte ocidental, o surgimento dessa técnica está associado ao Impressionismo, mas é considerado um estilo pós-impressionista, chamado propriamente de Pontilhismo ou Divisionismo. Uma ideia geral do Impressionismo é que as pinturas reproduzem as impressões do artista, ou seja, sua visão imediata e momentânea de algo. Dessa forma, quadros impressionistas eram pintados com relativa velocidade, usando pinceladas rápidas e com movimentos precisos – se você pensar num quadro feito com Pontilhismo, é possível até visualizar essa técnica em processo.
O efeito ótico do pontilhismo se dá pela justaposição de cores – em vez de sua mistura -, baseada na teoria das cores complementares, na qual busca-se cores que ofereçam mais contraste entre si. Bem resumidamente, essas cores que mais se contrastam, quando misturadas, resultariam no preto, no branco ou em alguma graduação de cinza. Quando o artista não dispõe de certas cores, ele pode, então, misturá-las para que resultem numa terceira cor. A justaposição das cores num quadro seria responsável por criar a ilusão de sombras e variações de tonalidade, ou efeitos diferentes como o de um “negativo” ou a impressão de movimento.
Na tatuagem, é difícil encontrar um ponto inicial (com o perdão do péssimo trocadilho) em que a técnica tomou forma em tempos modernos. Na verdade, formar um desenho a partir de pontos é um preceito básico da tatuagem, se pensarmos que, antes de surgir a máquina elétrica, a maioria das técnicas consistia em fazer vários pontos com agulhas, até preencher completamente um determinado espaço. Pelo próprio funcionamento da máquina de tatuagem, umatattoo moderna também é feita com pontos, só que o batimento da agulha é tão rápido que não nos damos conta disso, porque nem mesmo conseguimos enxergar o processo, só o efeito resultante no traço.
Mesmo sem perder de vista a história do pontilhismo na arte ocidental, se repararmos a maior parte das tatuagens pontilhadas, vamos perceber que há uma preferência por desenhos orientais ou geométricos, como os mandalas e as artes sagradas hindus, budistas, tibetanas, tailandesas, entre outras. Isso me faz pensar que, talvez, o pontilhismo na tatuagem tenha se originado dessas práticas antigas como a tatuagem Yantra, realizada na Tailândia. De fato, muitos tatuadores modernos que se dedicam ao dotwork usam uma técnica chamada handpoking, dispensando a máquina e fazendo da haste com a agulha uma espécie de caneta. Essa técnica é bastante semelhante às usadas em rituais orientais de tatuagem, nos quais se usam bastões de madeira ou bambu com agulhas atadas às pontas.
Um dos maiores representantes do dotwork é o belga Daniel DiMattia, um autodidata que tatua profissionalmente há 20 anos. Proprietário do estúdio Calypso Tattoo, ele decidiu se especializar no blackwork por considerar um estilo poderoso e desafiador. O uso de uma única cor – o preto – nas tatuagens exige grande dedicação do tatuador para criar novos desenhos, e as inspirações de DiMattia vêm das tatuagens tribais ao redor do mundo e de padrões antigos gravados, pintados ou bordados nos mais diversos meios, que ele fotografa em suas viagens.
Outro grande nome no estilo é o do inglês Tomas Tomas, tatuador no famoso estúdio londrino Into You. Tatuando há 19 anos, ele também começou a aprender a arte por conta própria e se tornou famoso por reinventar a tatuagem tribal. Na verdade, na minha opinião, o estúdio Into You, aberto em 1993, é o que reúne o melhor time de tatuadores especializados em blackwork e dotwork do mundo – entre outros (muitos) estilos.
Além desses, vale a pena mencionar Xed Le Head, Jondix, Thomas Hooper,Pierluigi Deliperi, Damian, Anna Day, Nazareno Tubaro (Argentina)… No Brasil, destacam-se os trabalhos de André Cruz, do Paz Tattooagem, e de Brian Gomes, ambos de São Paulo, além do paranaense Gregorio Marangoni (clique aqui para conferir a matéria do Tattoo Tatuagem com ele).
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