quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Tatuador por profissão


Tatuador por profissão

Mesmo sem a necessidade de uma graduação, profissionais da área lidam com questões muito sérias como a saúde e a ética

por Alexandra Gappo | sab, 07/07/2012 - 11:00
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Uma profissão até então informal. O ramo da tatuagem vem abrindo portas para profissinais, que sem necessitar de uma formação acadêmica, expressam seus talentos em formas de ilustração, mas assumindo um grande compromisso com o cliente.
A carreira vem agregada ao talento e a responsabilidade pelo trabalho bem feito. Na maioria das vezes, a profissão surge em pessoas e momentos inesperados. Henrique Brandão, por exemplo, é tatuador há cinco anos, especializado em Old Skull (tatuagens estilo mais clássicas, estilo marinho, pinup), e passou parte de sua vida servindo às forças armadas. Quando ainda soldado, Henrique já exibia no corpo algumas tatuagens e a desenvoltura para o desenho surgiu ainda quando criança.
Ao sair do exército, montou uma loja de vinis, que não durou por muito tempo. Nessa época, ele já tatuava algumas “cobaias”, amigos que davam força ao seu trabalho. “Eu fechei a loja de discos por que eu vi que eu poderia me sustentar tatuando. Ela (a tatuagem) começou a me render mais dinheiro do que o negócio que eu acabava de montar”, diz o profissinal, que explica que grande parte do que aprendeu durante o serviço militar contribuiu bastante para sua carreira atual. “A organização e a disciplina são aprendizados que vou levar para sempre”, afirma. Henrique Brandrão, que recebe em média 90 clientes por mês em seu estúdio.
A arte de ilustrar também requer muito estudo e não vem só com a experiência, mas com habilidade própria desenvolvida ao longo do tempo. O profissional deve saber retratar, na pele, a ilustração, diferentemente de desenhar em uma folha de papel. Antes de tudo, a tatuagem é uma linguagem, pode representar um sentimento, algo marcante ou apenas alguma imagem com a qual você se identifique. O bom resultado depende da desenvoltura do tatuador, além da habilidade técnica, mas, em primeiro lugar, deve-se pensar na arte.
Ilustrador há 13 anos, Eduardo Henrique Apolônio (ou apenas Apolônio como é conhecido) fazia do desenho o seu hobby. Pintava quadros e desenvolvia capas de CDs para alguns amigos. Mas há apenas oito anos, o tatuador, especializado no gênero New School (que dá uma roupagem contemporânea à linguagem Old Skull), fez do seu talento uma profissão. “Antes eu não imaginava a tatuagem como uma provedora de renda, mas sim, uma arte. Assumi a tatuagem como um trabalho há quatro anos e ela se tornou mais um meio de realizar o que eu gosto de fazer”, explica.
O profissinal, graduado em administração, trouxe a sua experiência na área para a nova carreira. Ele lembra que mesmo sem a obrigatoriedade de um diploma, o tatuador deve seguir algumas normas de ética básicas. Apolônio afirma que a tatuagem é uma arte, sendo assim existe um autor por traz dela e que, na maioria das vezes, assume um traço próprio e deixa a sua “assinatura” no estilo do desenho.
Portanto, o famoso Ctrl C + Ctrl V (Copiar e Colar), no campo da tatuagem, pode ser considerado até plágio. “Vai da ética de cada tatuador. Mas o correto, levando em consideração o cliente, são os desenhos exclusivos. Você consegue deixar sua marca na tatuagem e esse diferencial vai te favorecer lá na frente, quando surgirem mais pessoas interessadas no seu trabalho e em uma tatuagem própria”, frisa o profissional.
Infelizmente, nem todos que chegam com o interesse em se tatuar aceitam a opinião de um profissional de anos de trabalho. Henrique Brandão, que também presa pela exclusividade, explica que procura orientar o cliente que chega com uma ilustração da internet e pede para fazer igual. “Eu sempre procuro conversar com quem chega aqui no estúdio com um desenho copiado. Na maioria das vezes, usamos o desenho escolhido como base para fazermos um outro com um estilo diferenciado. Mas nem sempre consigo convencer o cliente”, afirma o tatuador.
No estúdio, a equipe do Portal LeiaJáencontrou a administratora financeira Priscylla Figueiredo, de 20 anos, prestes a fazer a sua primeira tatuagem. Sem demostrar nervosismo, ela conta que chegou até Henrique através de indicações de amigos. Grande parte dos tatuadores confirmam que o marketing mais eficiente é o famoso “boca a boca”. Além da opinião do cliente contar muito, o trabalho pode ser visto ao vivo por outras pessoas, que quem sabe no futuro, se interessam pelo trabalho do profissional.
Decidida, Priscylla havia levado um desenho que já estava com o toque do profissional. Ela frisa que a opinião e o olhar do tatuador contam muito na hora de decidir o que fazer e onde fazer a tatuagem. “Eu levei em consideração o que Henrique me disse. Modificamos um pouco o desenho para ficar mais exclusivo”, afirma.
A energia e o bom atendimento também são elementos que contam na hora de escolher um tatuador. Saulo Oliveira, de 40 anos, tem cerca de 30 tatuagens pelo corpo e afirma que ainda fará mais algumas. Há 20 anos sendo tatuado, ele conta que um bom resultado e o que é transmitido pelo profissional são fatores importantes para se conquistar um cliente. “A tatuagem é um investimento que você faz que vai ficar na sua pele a vida toda. Então é necessário que haja quase uma 'intimidade' com o profissional para que o trabalho saia, no mínimo, o esperado”, explica Saulo.

Segurança e saúde - Todo tatuador deve ter a consciência de que não é apenas um artista. Ele se torna também o responsável pela saúde de quem o procura. A função de fiscalizar os serviços oferecidos por estúdios de tatuagens é dos órgãos de vigilância sanitária estaduais e municipais. Todo o processo de tatuar pode transmitir sérias doenças, se não for feito corretamente. De acordo com as normas da vigilância sanitária, os estabelecimentos que não se enquadram nas regras são multados e perdem o alvará de funcionamento. Os clientes devem ficar atentos e verificar, principalmente, as condições de higiene do estúdio.
O ambiente deve ser limpo, bem ventilado e livre de contaminações externas. Durante o processo da tatuagem, o profissional deve usar luvas descartáveis, óculos ou máscaras de proteção. As agulhas devem ser ou descartáveis ou passarem por um teste biológico, para certificar a esterilização do material e evitar o contágio de doenças como HIV/aids e hepatites.
O ideal é que o tatuador abra a embalagem das agulhas na frente do cliente, para mostrar que o material está em ordem. Esses órgãos também alertam que menores de idade só podem fazer tatuagens se estiverem acompanhados dos pais ou responsáveis. O tatuador não precisa ter uma graduação para ter uma grande responsabilidade nas mãos: a saúde de cada cliente.

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