Um olhar diferente sobre o Exército brasileiro
Na data em que se comemora o dia nacional da Instituição, o LeiaJá desconstroi a imagem criada durante 48 anos
por Jullimaria Dutra | qui, 19/04/2012 - 19:20 | Atualizada em: qui, 19/04/2012 - 20:21
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Construir pontes, abrir estradas, defender os povos e a pátria, garantir a ordem e os poderes constitucionais tem sido algumas das missões e tarefas que o Exército brasileiro desempenha tanto em solo nacional como também em outros países. Resumir o número de atividades deste tipo de profissional na data em que se comemora seu dia parece ser fácil, mas ao observar atentamente a estrutura militar do Exército, percebe-se um emaranhado de funções que se interligam e, ao mesmo tempo, são independentes.
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Falar da estrutura da instituição é sempre complicado, por sua vasta teia de ramificações que, na maioria das vezes, foge ao conhecimento da população. Afinal, a ideia que hoje se tem da instituição ainda é muito injeçada nos períodos militares, sem falar que a muito pouco tempo é que o Exército percebeu no contato com a mídia uma possibilidade de difundir as suas atividades.
E por meio de uma dessas aberturas jornalísticas é que paulatinamente fui conhecendo um pouco o tamanho da abrangência do Exército. A primeira parte dessa história começou no Haiti, o país considerado pelas Nações Unidas o mais pobre das três Américas. Mas afinal, o que o Exército brasileiro faz em terras tão longínquas e adversas? Honestamente, eu também não sabia. Resolvi conferir de perto e as surpresas foram surpreendentes.
Em um lugar tão inóspito como é a capital Porto Príncipe, saber que mais de dois mil militares do exército brasileiro estão no país para garantir e instaurar a paz, por meio da Missão da ONU, já é por si só espantoso, uma vez que o Haiti é muito pobre e, do ponto de vista econômico, não é interessante "jogar milhões de dólares" ou recrutar homens se o retorno é quase inexistente.
Fala-se que o objetivo de permanência das tropas brasileiras no país seja para garantir uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. O fato é que, com cadeira ou sem cadeira, a paz (que era o principal objetivo da missão) tem sido conseguida e a presença do Exército hoje naquele país é o eixo de sustentação que norteia os haitianos. Quem põe os pés no Haiti percebe uma nítida pacificação se comparada aos tempos dos chimerres (milícias) do ex-presidente Jean Bertrand Aristide, em que o país parecia um purgatório.
Esse “voto de aplauso” ao Exército não está atrelado a ONU em si, mas das 18 nacionalidades que fazem parte do contexto da Minustah (Missão de Paz e Estabilização do Haiti), o Exército brasileiro se destaca, além de chefiar a missão, por conseguir a empatia dos haitianos - uma conquista que começa aparentemente com fuzis e pistolas mas que, no decorrer do laço estabelecido com os civis, do aperto de mão, do sorriso, o quadro de hostilidade se transforma.
Lado B - O que não se fala tanto é que o Exército brasileiro, por meio de seus militares, se comprometeu em ajudar voluntariamente o Haiti, de fazer o que as Nações Unidas em seu regulamento não se dispunha. O que eu vi foi uma instituição formada de homens cheios de valores humanos, que respeitam o povo, se sensibilizam com os dramas e tentam arrancar sorrisos. Naquele miserável e desolador quadro humano, os militares brasileiros carregavam litros de leite para doar a um centro de nutrição, acariciavam crianças desnutridas, sem nenhuma chance de sobrevivência.
Nesse difícil território, o papel do Exército tem sido fundamental. A segurança que de fato continua a ser o pilar de sustentação da presença dos militares, hoje é somada a outros fatores que foram introduzidos nas atividades da instituição - limpar valas de esgoto, fazer reparações em hospitais destruídos pelo terremoto, doar alimentos, prestar atividades nos horários extras a entidades filantrópicas, proteger as áreas de fronteira do Haiti. Em outras palavras, se comprometer em ajudar.
Essa atuação do Exército a nível internacional, assim como as próprias atividades internas, são muito pouco divulgadas. O que se tem conhecimento é o básico de suas atribuições. O fato é que o Brasil tem se destacado ao cenário internacional, possui tropas militares e um Exército que tem sido estudado por outras nações, por romper os tabus da forma de convivência e abordagem com as populações locais.
Comparado a outros exércitos mundo afora, o Brasil tem mostrado e provado "por A + B" a importância de um contato cordial, evitando fazer uso de armamentos e, além do Haiti, também encontra-se presente em missões de paz no Timor Leste, Costa do Marfim, Libéria, Saara Ocidental, Chipre, Colômbia, Equador/Peru.
Em todo esse número de países que o Brasil atua, claro, existe um propósito. Mas, o curioso de uma missão de paz (especificamente no caso do Exército brasileiro no Haiti) é que o estreitamento das relações se aproxima tanto que a sensação de pertencimento e compromisso com toda aquela nação de desalojados é forte demais - e um comprometimento sem nenhum tipo de obrigação. Indagando sobre o porquê de alguém se dispor a realizar este tipo de ação, a resposta foi simples: “Aqui no Haiti as sensações são a flor da pele, não tem como se sensibilizar”.
Essa declaração me fez entender que o Exército brasileiro - além de multifuncional - é diferente, por entender a necessidade de se adequar ao ambiente em que atuam e as pessoas que nele vivem.
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