segunda-feira, 11 de março de 2013

O PRECONCEITO CONTRA PESSOAS TATUADAS EXISTE!


Lucas Viglio
Quase sempre tem uma nova mensagem polêmica envolvendo pessoas tatuadas, seja com histórias bizarras ou com algum político que diz asneira na internet e depois pede desculpas. A história deste post não é nada fora do comum, para falar a verdade, isto deve acontecer todos os dias com muitas pessoas, inclusive com vocês, leitores do blog.
Não posso me iludir e falar que o preconceito não existe, sim, ele existe e não é somente com pessoas tatuadas. O preconceito existe com qualquer tipo de estereótipo que seja diferente da sociedade brasileira. Para ser sincero, eu não gosto de escrever estas matérias, mas o motivo para escrevê-las, é justamente por conta que nos dias atuais as pessoas vem mudando, as pessoas vem lutando por causas, mesmo que sejam através do seu facebook ou assinaturas pela internet.
Lucas Viglio é um jovem tatuado de 21 anos que estava viajando de ônibus no dia 12 de fevereiro de 2013, entre as cidades de Araraquara par Rio Claro, ambas cidades são situadas no interior de São Paulo. Como relatou em sua postagem no facebook ele foi tratado de forma preconceituosa pelo motorista da empresa VB Transportes, responsável por fazer o trajeto entre as duas cidades.
Tudo começou quando Lucas, solicitou para o motorista guardar seus pertences no bagageiro do ônibus, neste instante, o rapaz esqueceu de entregar o bilhete (passagem de ônibus) e foi então que começou as “indiretas” do motorista José Vieira. Com um “assovio diferenciado”, digamos assim, aquele que as pessoas fazem para chamar a atenção, em seguida Lucas entregou o bilhete e pediu desculpas pelo descuido, então, José Vieira fez uma simples pergunta ao rapaz, “Você sabe o significado deste Assovio Diferenciado?“, a resposta de Lucas foi direta, sem muita enrolação foi de que pássaros se comunicam assim.
Não satisfeito, o motorista completou dizendo que quem se comunica deste jeito, são os presos, ou seja, bandidos. Acho que somente nesta frase temos muita coisa para refletir, principalmente, em saber como José Vieira sabe que este é o tipo de comunicação de bandidos, eu não sei, porque não sou um, não conheço nenhum bandido e muito menos como eles se comunicam, também sou uma pessoa tatuada e tenho tatuagens à amostra, por acaso, eu ou Lucas teríamos que saber como bandidos se comunicam? Ou que assovio é a forma de comunicação? Qual é a forma de comunicação? É tipo um, “e ae parceiro, estamos juntos nessa“, ou um “e aí, tá na minha área mermão“?
A atitude de Lucas no momento foi de “sobrevivência”, digamos assim, caso ele respondesse o motorista, com certeza, poderia ficar sem voltar para casa por algum tipo de lei, artigo ou qualquer merda que o país diz que é “calunia/desrespeito com o emprego” e bla,bla,bla. O engraçado é que nesta mesma viagem, Viglio presenciou novamente o preconceito de José Vieira com outra pessoa tatuada e com piercings, afirmando que pessoas com tatuagem estão ligadas ao demônio através de um pacto.
Eu nunca fui muito religioso, é um assunto que não me interessa muito, mas, venha cá, então todas as pessoas que tem tatuagem tem um pacto com o demônio? Isto seria uma forma de generalizar todas as pessoas que tem tatuagem com uma frase estúpida e de uma pessoa que talvez viva ainda na década de 20, ou antes disto né? Caso os administradores da empresa VB Transportes ou até mesmo o José Vieira leiam esta matéria, só um comunicado, nem toda pessoa com tatuagem tem pacto com demônio, não vou falar todas, porque não conheço todos, mas tenho certeza que deve ser uma minoria, se é que existe algo deste tipo, eu não duvido, mas deixo o recado.
Para finalizar esta infeliz história, ao final da viagem, Lucas foi até o motorista e respondeu: “Lembra que o senhor disse em Araraquara? Me chamando pelo assovio diferenciado? O senhor me conhece? Sabe se por acaso eu sou um ladrão ou algo do gênero?” e a resposta foi a mais óbvia possível, “Foi uma brincadeirinha“.
Jose Lopez - Tatuador
Amigo leitor, nunca aceite este tipo de desculpas, porque são por causas destas “desculpas” que a coisa vai piorando, até chegar o dia que você vai perder uma vaga de emprego porque tem tatuagem, como se tatuagem por algum motivo mudasse ou alterasse sua qualidade profissional. Como disse em outro post e vou repetir novamente, não é com desculpas que uma pessoa “se livra do preconceito”, só se acaba com isto, quando realmente a pessoa tiver conhecimento sobre a cultura, estilo de vida aprofundado, porque, você pode apostar, quando você conhece algo, você pode não gostar, mas você respeita, porque existem pessoas que gostam e seguem este estilo de vida, ou cultura.
E para os haters que sempre vem ao blog nestas postagens dizer “Fez tatuagem, está no grupo de pessoas tatuadas e precisa aguentar, tá na chuva é para se molhar“, não cara, eu não preciso aguentar preconceito de gente que não conheço, eu não fiz tatuagem para estar em um grupo, ou ser identificado, sabe por quê? Qualquer pessoa pode ter tatuagem, desde um executivo alto padrão, até um vendedor de loja, do cara que faz o pãozinho na padaria do João, até um empreendedor. Tatuagem não tem perfil, pessoas tatuadas não tem um perfil, a tatuagem é uma arte que representa muitas vezes situações das pessoas e ninguém, mas ninguém mesmo, tem o direito de julgar você, sem ou com tatuagem, ninguém tem o direito de fazer o que este motorista fez, independente se a pessoa tem tatuagem ou não, é com pessoas assim que quando eu estou numa fila de banco, todos ficam olhando para mim e fazendo “não, não, não” com a cabeça, são com pessoas assim, que muita gente para pessoas tatuadas e pergunta: “por que você fez isto com o seu corpo?”.
O corpo é meu, as tatuagens são minhas, as escolhas são minhas e ninguém tem nada a ver com isto, como muita gente vai odiar esta postagem, muita gente vai gostar, eu não vim agradar ninguém, vim reportar uma matéria de que preconceito existe, pode ser o mais comum, mas ele desenvolve e quando você vai ver, surge um novo “Hitler” por aí, ditando regras e falando quem deve morrer por seguir uma religião, ou ser de uma determinada etnia, parece ser extremo isto, mas aconteceu uma vez, por que não novamente?
Só para constar, Lucas Viglio está abrindo um processo contra a empresa.

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