Se existe um assunto (muito) mais polêmico que mamilos, eu diria que são as “tatuagens” no globo ocular. Para começar, “tatuagem” entre aspas, pois trata-se de uma injeção de tinta, cuja forma não se pode definir, uma vez que o próprio comportamento da tinta no olho não é muito controlável. Desde 2007, quando foi noticiado o primeiro experimento “oficial”, muita coisa mudou, muitos questionamentos surgiram, bem como apareceram diversas pessoas querendo mudar a cor do “branco” dos olhos – e alguns modificadores corporais oferecendo a mudança.
No entanto, é importante ter em mente que, mesmo já tendo se passado mais de cinco anos desde o surgimento da técnica, o eyeball tattooing, como é chamado em inglês, ainda é considerado um procedimento experimental e altamente arriscado. Nesta sequência de posts, quero fazer uma revisão do que já aconteceu até hoje e de como anda a tatuagem do globo ocular pelo mundo. Você pode realizar a leitura das outras partes do texto, “Tatuagem no globo ocular: Da prisão para o Mundo“, “Tatuagem no globo ocular – Novas cores, mais adeptos“
A preocupação com o oferecimento dessa modificação por alguns artistas passa pela “aprendizagem duvidosa”, uma vez que não são oferecidos cursos de tatuagem do globo ocular. Dessa forma, sabemos que todos aqueles que fazem o procedimento são autodidatas e tiveram que desenvolver suas técnicas por conta própria.
Um trecho de um documentário da série “Taboo”, produzido pelo canal National Geographic, conta um pouco da história de Howie, também conhecido como Luna Cobra, o primeiro a realizar o procedimento e responsável por desenvolver a tinta a ser injetada. No episódio, é mostrado o terceiro globo ocular a ser inteiramente coberto por tinta, e o primeiro injetado com a cor preta (abaixo segue o trecho do documentário em inglês. Não consegui encontrá-lo na íntegra e o canal do NatGeo no YouTube não disponibiliza os vídeos no Brasil, mas caso alguém tenha um link, por favor, compartilhe com a gente nos comentários! É um dos primeiros “Taboo” sobre modificações corporais, que trata de implantes, suspensão…).
Três anos antes da exibição no National Geographic, mais precisamente, no dia primeiro de julho de 2007, Howie fez os primeiros experimentos em pessoas – antes, havia treinado em olhos de animais para desenvolver a tinta e a profundidade das aplicações. As primeiras “cobaias” foram Pauly Unstoppable (conhecida figura do mundo da body art), Josh “Chy” e Shannon Larratt (criador do maior site dedicado à body modification no mundo, o BMEzine). As descrições do procedimento estão devidamente documentadas na página do BME, com fotografias por Lane Jensen, para a revista Tattoo and Piercing Magazine.
A primeira tentativa, em Pauly Unstoppable, consistiu no uso do método de “hand pocking” (em que se usa a agulha num movimento de “cutucar” a pele, ou, nesse caso, o olho, técnica comum para fazer tatuagens com pontos, ou “dotworks”), para fazer alguns pontos com tinta azul na superfície do olho. Neste caso, a tinta não aderiu ao olho e foi, aos poucos, “lavada” com as próprias lágrimas.
Depois, foi a vez de Josh “Chy”, em quem Howie injetou, com agulha bem fina (29G), uma solução da tinta com colírio antibiótico. A primeira aplicação, bastante superficial, se dissipou no olho a ponto de quase desaparecer. Na segunda injeção, adentrando um pouco mais no globo, a tinta já se espalhou melhor e ficou visivelmente retida sobre a esclera, como podemos observar na fotografia abaixo.
No terceiro procedimento, em Shannon Larratt, Howie usou uma agulha ligeiramente mais grossa (28G). Nele, a primeira injeção parece ter sido também muito superficial, devido à dificuldade de se precisar a profundidade a que deve ser colocada a agulha. Na segunda vez em que a tinta foi injetada, com um pouco mais de profundidade, formou-se então uma bolha de tinta indelével.
De acordo com o texto de Shannon, os procedimentos foram indolores, pois não há terminação nervosa alguma na superfície do olho. Por questão de segurança e para que o olho não se mexesse muito, foi aplicado um colírio com lidocaína.
Nos dias que se seguiram às injeções, nenhum dos três relataram dor, apenas um pequeno desconforto e inchaço. Shannon disse que tinha a sensação de uma bolha entre a esclera e a conjuntiva (para identificar as partes, dê uma olhada nas indicações 1 e 15 do esquema a seguir), que o levou a procurar um médico e a continuar pingando colírio antibiótico em seu olho.
Das três experiências, a segunda delas, em Josh, parece ter sido a mais bem sucedida. 24 horas após injetada a tinta, esta se espalhou consideravelmente pelo globo, resultando numa “mancha” maior e bem definida. Josh também foi o primeiro a dar continuidade ao projeto e ter o globo ocular inteiramente colorido: Howie terminou de pintar o olho direito em abril de 2008. Novamente, o evento foi documentado pelo BME, com texto do próprio Shannon Larratt.
Entre o fim de 2007 e início de 2008, Howie fez ainda dois outros procedimentos, cujas fotos foram publicadas em sua página oficial – sendo um deles aquele que aparece no documentário do National Geographic.
A título de curiosidade: Shannon Larratt foi o único que relatou ter sentido alguma dor, quando tentava focar a vista em objetos perto de seu rosto. Por esse motivo, Howie insistiu que ele procurasse um oftalmologista e, no hospital, todos foram bastante atenciosos e ninguém o reprimiu… Shannon diz ter sido atendido por um especialista em tatuar a córnea (falarei um pouco mais sobre isso a seguir), que, mesmo tendo dito que aquilo deveria ser feito apenas por um médico, não se mostrou assustado nem foi desrespeitoso. O que causou a dor de Shannon parece ter sido uma irritação menor no músculo, mas não havia outro motivo para se preocupar, pois os exames, inclusive o que media a pressão do olho, estavam normais e a cicatrização deveria acontecer normalmente.
Fonte: BMEzine | Luna Cobra | Tattoos inacreditáveis
Fonte: BMEzine | Luna Cobra | Tattoos inacreditáveis
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