Marcas, cicatrizes e também queimaduras aparecem por nosso corpo durante nossa vida, são uma parte material, palpável, da lembrança. Cada pessoa tem sua maneira individual de enxergar suas marcas e de lidar com elas e a maneira como algumas mulheres conseguem lidar com o resultado do tratamento contra o câncer que as acomete, causando tantos danos, é particularmente interessante por envolver, claro, tatuagens.
Uma foto que se tornou um viral em fevereiro levou a muitas discussões pela internet. O motivo: na foto está a região do peito de uma mulher que se submeteu a uma mastectomia dupla e, para cobrir as cicatrizes, fez uma grande tatuagem no local. Sem mamilos devido à cirurgia, o que vemos é uma bela tattoo que dá a impressão de a mulher estar usando um top.
Essa foto foi publicada no livro Bodies of Subversion: A Secret History of Women and Tattoo (“Corpos da Subversão: Uma História Secreta de Mulheres e Tatuagem”; o livro só foi lançado em inglês), escrito por Margot Mifflin, cuja primeira edição foi lançada em 1997, mas que ganhou uma terceira edição em dezembro de 2012. O livro traz uma seção dedicada a mulheres que decidiram, nos anos 90, cobrir suas cicatrizes de mastectomias com tatuagens. A imagem da mulher com o peito tatuado deve ter sido uma das fotografias para divulgação do livro que chamou a atenção de alguém que, então, resolveu dividi-la em sua página pessoal. Mas a própria pessoa que aparece na foto só foi perceber que estava famosa um tempo depois de ver sua foto no Pinterest e, depois, descobri-la em outras páginas. Foi aí que decidiu contar sua história em seu blog.
Trata-se de Inga Duncan Thornell, que vive em Seattle com seu marido e seus animais de estimação e trabalha como conselheira (no Brasil acho que nem é um trabalho regulamentado, mas trata-se de uma espécie de terapia voltada para múltiplos temas).
O desenho da tatuagem foi uma colaboração entre Inga (que é formada em Artes, dentre outras coisas) e a tatuadora Tina Bafaro, como já sabemos, com o objetivo de cobrir as cicatrizes deixadas pela dupla mastectomia. Para completar o trabalho, foi necessário realizar uma sessão por mês, aos domingos, durante dois anos e meio! A imagem, que vai da região acima do estômago, cobrindo seu peito e segue para as costas, no formato de uma blusa, ou, talvez, uma armadura, é bastante colorida, trazendo um tema com animais e flores combinados a ornamentos no estilo celta.
Depois de ter a história de sua tatuagem publicada no livro de Margot Mifflin, em 2001, Inga e Tina participaram ainda de um documentário exibido no canal MSNBC, intitulado MSNBC Investigates: Tattooed Women.
O motivo do alvoroço em torno da fotografia foi que, segundo uma das pessoas que decidiu compartilhar a foto, toda vez que ela era publicada no Facebook, o site a tirava do ar em no máximo 24 horas, sob a justificativa de “conteúdo ofensivo devido a nudez”. Na página da própria Inga, no entanto, ela conta que foi contatada por um jornalista, Russ Bowen, que procurava saber a respeito de toda a história da censura de sua foto. Ao que parece, a foto foi compartilhada em uma página pessoal e alguém deve ter aberto uma denúncia ao Facebook, levando à remoção da foto. Por isso, a pessoa que compartilhou pediu a um amigo, dono de uma página bem maior, a Custom Tattoo Design, que tentasse publicar a foto para ver se ela seria novamente excluída, mas nada aconteceu. Todo o rumor da censura começou quando um site, o UPI, simplesmente publicou a história sem verificar nenhuma informação e, a partir dali, outros sites foram publicando a mesma coisa. Mas a foto na página do Custom Tattoo Design não foi apagada e, diga-se de passagem, já tem mais de 200 mil compartilhamentos!
Polêmicas à parte, o importante é que a foto em questão gerou, sem querer, uma verdadeira campanha mundial de conscientização sobre o câncer de mama!
Coincidentemente, também em fevereiro um vídeo sobre o mesmo tema apareceu, para divulgar um projeto que merece tanta atenção quanto a história de Inga Duncan: o Personal Ink, ou P.INK.
Fundado por Noel Franus em parceria com Courtney Bowditch e Heather Weiss, o projeto tem o objetivo de reunir vítimas do câncer de mama com tatuadores e oferecer inspirações que possam ajudar essas mulheres a superar a perda estética que representa a cirurgia.
O blog Tattoo Tatuagem disponibilizou o vídeo legendado (disponível logo abaixo do último parágrafo!) que conta a história de Molly Ortwein, de 47 anos, cunhada de Franus. Ao descobrir que estava com câncer, soube também que a mastectomia a deixaria com cicatrizes e sem mamilos. A solução mais comum seria, então, de tatuar mamilos para que os seios tivessem uma aparência “normal”. Mas a ideia que surgiu da própria Molly pareceu mais interessante a Franus: já que há um “espaço em branco”, por que não fazer um desenho ou algo estilizado? E, por e-mail, ela pediu a seus familiares que dessem sugestões!
Sua tatuagem foi realizada por Colby Butler, do estúdio Unfamous Miami e levou 7 horas para ser terminada. E agora que Molly pode ostentar estonteantes tatuagens no lugar dos mamilos, sabe qual é o seu desejo? Vir ao Brasil e fazer topless na praia! You go, girl!
Fontes: Update or die | Custom Tattoo Design | Dunthor
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