segunda-feira, 11 de março de 2013

TATUAGEM NO GLOBO OCULAR – NOVAS CORES, MAIS ADEPTOS


Tatuagem Ocular | Novas Cores, Novos Adeptos
Outro indivíduo que tatuou o próprio olho foi Matt Gone, figura bastante conhecida por ter entrado para o livro Guinness depois de tatuar a maior parte de seu corpo com o padrão de um xadrez. Após colorir um olho com a cor verde e outro com azul, o vídeo de Gone apareceu em vários canais de grande audiência, como a Fox e a CNN. Mais uma vez, o foco estava na inconsequência do ato, como se Matt simplesmente tivesse injetado tinta em seus olhos, sem saber o que estava fazendo. Claro, todos os médicos entrevistados falaram que ele poderia ficar cego – e tudo terminou por aí.
Dando continuidade à saga, mas fora dos noticiários, outros modificadores passaram também a fazer a coloração do globo ocular. Na América Latina, o superstar da modificação corporal, Emilio Gonzales, publicou as fotos de seus primeiros clientes com os olhos pretos e, nos EUA, Chance Davis e Russ Foxxapareceram com seus trabalhos, além de Max Yampolskiy, na Rússia. Não só mais pessoas estavam oferecendo o procedimento, mas também estavam buscando variações para a tatuagem escleral, resultando em olhos com duas cores bem definidas, com aplicações diferenciadas.
Tatuagem Ocular | Novas Cores, Novos Adeptos
Tatuagem Ocular | Novas Cores, Novos Adeptos
No Brasil, a tatuagem no globo ocular “começou a esquentar” em outubro de 2012, com dois verdadeiros acontecimentos: a visita de Emilio Gonzales e a ousadia deRafael Leão, do Dhar-Shan Body Art. Essas duas situações despertaram muitas discussões e questionamentos a respeito da prática e mesmo da qualificação dos profissionais para que possam fazer a aplicação.
Particularmente, acredito que o maior problema de todos é que em nenhum lugar do mundo você pode falar em qualificação plena do profissional da body art, por um motivo simples: não há instituições oficialmente reconhecidas pelos órgãos governamentais e nem mesmo a profissão é regulamentada! Nenhum modificador corporal é graduado em medicina, pois, se dedicasse seu tempo às referidas práticas detendo um diploma médico, este seria cassado por prática ilegal da medicina. Falando em medicina, para alcançar o status que detêm hoje, as próprias ciências médicas passaram por diversos períodos de experimentação e sempre estiveram sujeitas a erros. Basta lembrar dos tantos casos de erros em cirurgias e de mortes que ocorreram durante procedimentos mais “simples”, como a lipoaspiração – riscos que enfrentamos até hoje quando nos submetemos às mãos dos médicos.
Tatuagem Ocular | Novas Cores, Novos Adeptos(na foto, Alexandre Anami, trabalho feito por Emilio Gonzales)
Argumentar que é errado fazer algo no corpo alheio que não seja seguro chega a soar como ingenuidade, principalmente no meio da modificação corporal, no qual as práticas que hoje vemos como relativamente seguras foram gradativamente desenvolvidas e melhoradas por meio da experimentação.
O sentimento dúbio que têm Shannon Larratt e T. Angel justifica-se pela velocidade com que a prática se “espalhou”, e com que outras pessoas se dispuseram a experimentar essa pigmentação antes mesmo de existirem relatos do que pode ocorrer a longo prazo – afinal, a prática em si tem apenas pouco mais de cinco anos… e se alguém ficar cego depois de dez anos do procedimento?! Não há dúvidas de que a tatuagem do globo ocular é algo delicado e complexo, por ser um procedimento novo, de riscos ainda desconhecidos, que só podem ser cogitados.
Tatuagem Ocular | Novas Cores, Novos Adeptos(Alex Honda, trabalho por Emilio Gonzales) 
Apesar do que se ouve por aí, até então, não há casos que tenham levado a consequências drásticas como a cegueira. De acordo com o FAQ do BMEzine sobre a pigmentação do globo ocular, existe UM caso em que o excesso de tinta injetado na esclera acabou migrando para o humor vítreo, que seria a parte interna, mais profunda, do olho. Nesse caso, o próprio olho em que o pigmento foi injetado parecia não aceitar com facilidade a aplicação da tinta, que não se espalhava com facilidade.
Na mesma sessão, o outro olho do cliente também foi pigmentado, aparentemente sem complicações. Três dias após o procedimento, a pessoa afirmou que teve uma dor de cabeça intensa, visão embaçada e sensibilidade à luz (fotossensibilidade). Durante o ano seguinte, a pessoa relatou ver manchas pretas e as partículas de tinta parecem ter migrado também para o nervo ótico. Consultado, o optometrista informou que é bem possível que a pessoa desenvolva glaucoma e pode ocorrer prejuízo da visão ou, mesmo, a cegueira. Infelizmente, o que aconteceu aqui independe da experiência do aplicador, que continua sujeito a erros após anos de prática – afinal, o erro humano acontece em qualquer ponto da vida. Lembro também de uma conversa que tive com um amigo, em que mencionei a prática da pigmentação e que até gostaria de fazer num futuro distante (amo como ficam os olhos pretos!).
Esse amigo me chamou a atenção para a possibilidade de ter qualquer diagnóstico dificultado pela tinta, que pode, por exemplo, encobrir defeitos ou anormalidades no olho – algo que, confesso, não tinha pensado sobre. Pode ser que a pessoa com algum problema no olho não seja devidamente diagnosticada por tê-lo pigmentado, um caso que torna, inclusive, difícil afirmar se o problema foi em consequência da pigmentação ou algo que aconteceria independente dela.
Tatuagem Ocular | Novas Cores, Novos Adeptos(Diego Morais, trabalho por Emilio Gonzales) 
Na verdade, se pensarmos de um ponto de vista fatal, até uma perfuração no nariz pode levar à morte por infecção generalizada – logo, tudo o que fazemos é arriscado. Se pensarmos pelo lado realista, o olho é uma parte extremamente sensível do corpo, facilmente sujeito a reações e irritações. Um grão de poeira que entra em contato com nossa córnea pode dar um terrível fim à visão! Portanto, injetar pigmentos na esclera, como já foi dito inúmeras vezes neste artigo, é, sim, muito perigoso.
Na história da medicina, no entanto, o que sempre houve foi uma palavra de ordem que, creio, deve se aplicar também à modificação corporal: estudar! É preciso estudar e pesquisar exaustivamente. Não é a toa que um médico leva anos para se formar. Mas também não é à toa que, ao fim do curso, um médico tenha que passar por um período de residência, no qual pratica o que aprendeu. Na modificação corporal também é preciso prática, além de estudo. E para praticarmos, dependemos de pessoas que confiem em nós e que nos confiem seus corpos.
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